Paixão inocente
Não fomos apresentados formalmente.
Até onde posso me lembrar, uma brisa suave refrescava esta tarde de verão de 25 de Dezembro.
Lá estávamos frente a frente pela primeira vez.
Eu era tímido, calado, e acabara de levar o primeiro choque de minha vida.
Meu coração batia em descompasso, temia que notassem o tremor de minhas mãos e pernas, o chão havia sumido sob meus pés.
Diante de mim uma linda figura me encantava.
Jamais, por toda a minha vida, novamente veria algo tão belo.
Em completa inocência, tímidos lindos olhos de um magnífico azul profundo fitavam-me como duas ilhas flutuando em um lago de pele alva e suave, de contornos arredondados e delicados.
Cabelos castanhos encaracolados emolduravam sua face, uma obra de fina arte jamais reproduzida por qualquer pintor ou escultor, tudo revestido da inocência mais pura que se pudesse conhecer.
O melhor artista do mundo jamais faria justiça ao tentar reproduzir face tão perfeita. Qualquer tela imitaria grosseiramente seus traços sem nunca sequer aproximar-se da beleza que estava diante de meus olhos inocentes.
Por um instante pensei fugir, mas já era tarde.
Estava enfeitiçado.
Havia sido capturado por aqueles lindos olhos e o mundo, todo o universo deixaram de existir enquanto eu mergulhava naquele azul de magia inigualável.
Tornei-me seu prisioneiro, disposto a cumprir uma maravilhosa pena perpétua sem impor quaisquer condições, submisso ao poder da magia daquele olhar.
Queria aproximar-me, tocar aquela pele alva, aspirar ao doce aroma que ela exalava, porém, fui brutalmente afastado por mãos enormes e fortes demais para a minha resistência, impedindo-me cruelmente de dirigir-lhe qualquer sílaba que porventura escapasse de meus lábios trêmulos.
Ao vê-la afastar-se, sentia que parte de mim estava sendo friamente amputada, como se a vida escoasse junto ao ar que saia de meu peito, com o suspiro mais profundo que meus pulmões já houvessem retido em toda a minha vida.
Ouvi alguém mencionar um nome.
Era o nome de uma estrela.
Toda a cena durara uns poucos minutos, mas me parecera uma eternidade.
Duas décadas passaram-se deste encontro.
Não imaginava que minha vida, daquele dia em diante, seria moldada pela lembrança daquele magnífico momento.
Passei a preferir a cor azul ao escolher minhas roupas, meus olhos prendiam-se a tudo que a lembravam. Inumeráveis pássaros, objetos e principalmente flores desfilavam em azul diante de meus olhos prendendo minha atenção, tudo evocando o sentimento que eu mal soubera definir em minha inocência.
Todo o dia ardia em saudade por aquela magia. Fui censurado inúmeras vezes pelo hábito de caminhar na contramão de calçadas repletas de pessoas e por encará-las nos olhos, como se procurasse incessantemente por algo precioso.
Por vezes levantava-me em plena madrugada e ficava inexplicavelmente perscrutando o céu estrelado como um astrônomo amador a procura de um planeta perdido.
Guardei em meu íntimo um sagrado segredo.
Jamais contara a ninguém meus verdadeiros motivos a respeito destes costumes, mas meu coração fervilhava na esperança de um reencontro.
Certa vez alguém comentou que ela partira muito cedo, que eu procurasse esquecê-la e viver minha vida da melhor maneira que me aprouvesse.
Recusei-me a acreditar. Fiquei convencido que todos os que me conheciam estavam envolvidos em uma imensa conspiração cujo objetivo cruel era fazer com que eu desistisse de minha felicidade.
Magoado, isolei-me em meu estreito universo por um tempo. Logo vi que deveria construir minha vida, contentando-me apenas com a felicidade de poder lembrar.
Mais duas décadas ficam para trás e sob meus cabelos brancos, ainda relembro as cenas daquele primeiro e único encontro, agora despido de qualquer esperança.
O tempo não vencera minhas recordações, mas não odeio mais aquelas mãos enormes que um dia me impediram de aproximar-me de minha primeira paixão.
Hoje é novamente 25 de dezembro.
Encontro-me deitado em meu último leito. Sinto-me repleto e saciado de longos dias e anos.
Acabo de repassar todas as lembranças de minha frustrada busca e minha jornada está no final.
Fecho os olhos procurando ignorar as pessoas de uniforme branco à minha volta, bem como os passos e sussurros preocupados de filhos e netos por detrás da porta semi-aberta.
Sinto meu coração bater em descompasso pela última vez.
Retenho o ar em meus pulmões e deixo escapar um profundo suspiro, parecido com o daquele magnífico dia.
Mas em algo diferia.
Não era exatamente igual.
De súbito, o mundo se fragmenta como um monte de folhas levadas pelo vento morno da tarde e...
Estou caminhando e meus pés não tocam o chão novamente.
Tenho cinco anos de idade outra vez e diante de mim há um magnífico céu estrelado. O vento suave refresca o calor de uma linda noite de verão.
Ao fundo noto dois lindos astros em azul profundo, fitando-me, conectando-me, aprisionando-me e novamente me apaixono.
Lá está ela à minha espera, exatamente como eu me lembrava.
Encho-me de coragem e numa explosão de sentimento há muito tempo retido, digo em voz de criança palavras que desejara ter dito em nosso primeiro encontro.
- “Beatriz. Você é e sempre foi e sempre será meu primeiro e único amor...”.
Autor: Josué Fernandes
25 de Dezembro/2008
Nota do autor:
“Beatriz vem do latim Beatrix e significa literalmente ‘Aquela que faz alguém feliz’. Também é o nome de uma estrela muito brilhante conhecida como Bellatrix”.
Comentário adicional:
Bellatrix é a 24a. estrela da Constelação de Órion.
Foi classificada no catálogo Henry Draper sob nº 35468, está em ascensão reta a 5 horas, 27 minutos e 7.9 segundos. Sua distância da terra é de 110 anos-luz. É uma estrela de tom azul. É a estrela Gama de Órion, ou seja, a 3º em brilho desta constelação.
(Fonte: Wikipedia, a enciclopédia livre)
Orquideas
As orquideas representam bem esta historia,com seu aroma suave e delicado. Suas petalas sedosas,macias,aveludadas e com leve brilho. Sua temporada de florescencia e tão fugaz como algumas pessoas e seres que passam por nossas vidas. Elas para mim são a representação perfeita da morte, em botão são esperadas,cuidadas, protegidas e tão aguardadas. Quando em flor, admiradas. Pela sua beleza,aroma e graça.Vivem sua vida sem muita beleza e graça. Sofridas epfitas,ou seja, se apoiando em troncos e se apegando as pedras sem vida e sem beleza. Ha como e bela e sabia a natureza. E quando murchas e em decadencia. Deixam somente a leve lembrança de sua existencia. Dendrobiums gostam de ambientes úmidos, porém para ter uma floração mais bela, deve passar por um período de seca.
Meu pai partiu com elas em suas mãos. Pois, por nos sempre muito admirada. Nossa infancia e lares sempre foi por elas enfeitadas. Minha vo as admirava catheias de todos os generos. Muitas foram por elas cuidadas. O nome que elas muitas vezes recebem não fazem juz a tão rara formosura. Agraencum, Brassia,dendrobium e outros que poderiam ser beatriz,Mariana, Andre Augusto, Penelope,Lilica,Neide e muitos outros seres tão delicados.